Filhos

Nós e nossos filhos – Cuidando da herança do Senhor
Acontece que os filhos são seres que nascem para ser independentes e, por mais que não queiramos considerar esta verdade, ela vai se impor e nos convidar a uma peleja muitas vezes dolorosa, onde de um lado o filho tenta se desvincular para ganhar autonomia e do outro os pais tentarão de tudo para que isto não aconteça, ou pelo menos tentarão retardar esta autonomia.
O problema, neste caso, é que dificilmente os pais julgam que os filhos já estejam prontos para viverem longe deles. Aprendemos que os filhos devem respeitar os pais, isto é verdade, mas para que o relacionamento, criação e partida dos filhos transcorram de forma adequada e satisfatória, os pais também precisam respeitar algumas coisas em relação aos filhos…
1- Respeite a vocação
“Instrui o menino no caminho em que deve andar…”. Há pais que querem realizar nos filhos os seus desejos profissionais, investem em seus estudos com uma grande expectativa de que eles serão aquilo que os pais querem. Ou seja, querem instruir os filhos nos caminhos deles, dos pais. Isto tem gerado muitas frustrações nos pais e também em filhos que, muitas vezes, se tornam o profissional dos sonhos dos pais e, não obstante alguns conseguirem uma carreira promissora e bem remunerada, a felicidade não os acompanha nesta carreira.
Os filhos devem ser o que nasceram para ser, cada um recebe de Deus um plano, uma história, o papel dos pais é estar atentos para perceberem a vocação dos filhos e apoiá-los na direção certa, no caminho certo, assim, “… até quando envelhecer, não se desviará dele”.
2- Respeite a individualidade
Não os compare com os outros, veja cada filho seu como um indivíduo. As comparações não fazem bem, cada um nasceu para ser ele próprio.
3- Respeite a liberdade
Não os manipule como se fossem um aparelho com controle remoto, deixe-os se descobrirem e aprenderem a se relacionar com eles mesmos e com o meio onde se desenvolvem. Certifique-se apenas de que eles estão em segurança, de resto, dê-lhes a hance de aprenderem a se tornar independentes.
4- Respeite o esforço que precisam fazer para se tornarem fortes
Um dos cuidados que os pais devem ter é o de não facilitarem muito as coisas para os filhos. Há pais que dão tudo prontinho nas mãos dos filhos, carregam-nos como objeto de cristal de um lado para o outro, não permitem que passem por apertos onde tenham que se esforçar para vencer desafios. É como a história do homem que ao ver uma borboleta se esforçando para sair do casulo, quis ajudá-la puxando-a para fora. A borboleta saiu, mas não sobreviveu, porque não desenvolveu a musculatura que o esforço para sair do casulo lhe proporcionaria. Há filhos que estão se tornando “borboletas aleijadas” por conta da superproteção dos pais.
5- Respeite a necessidade deles de terem limites indicados pelos pais
Os filhos nascem prontos para serem qualquer coisa. Desenvolvem uma curiosidade para conhecer tudo ao redor. Os limites indicados pelos pais garantem que não vão explorar áreas perigosas que podem colocar seu futuro e até suas vidas em risco.
6- Respeite a necessidade deles de terem pais com autoridade
A autoridade dos pais serve para assegurar aos filhos o desenvolvimento de boa conduta social, ética, além da disciplina. É no lar que se educa. A sociedade se organiza com leis, disciplina e respeito, e é em casa que o treinamento para esta conduta social acontece. Pais que não exercem autoridade sobre os filhos os impedem de desenvolver a capacidade de conviver na sociedade de forma ajustada.
7- Respeite a necessidade deles de desenvolverem conhecimento sobre o Deus que os criou e que deseja salvá-los
O valor de Deus para os filhos será o que os pais demonstrarem que Deus tem. Só que esta demonstração deve ser com a vida e não apenas com palavras. Pais que falam sobre Deus mostram conhecimento a respeito dele; pais que revelam Deus em seus atos, ensinam o verdadeiro valor dele aos seus filhos.
8- Respeite a necessidade que eles têm de aprender sobre uma boa vida conjugal
Isto se faz investindo no casamento. Homens e mulheres que se preocupam em tratar bem o cônjuge, com respeito, amor, dedicação, carinho, companheirismo, amizade e atenção, além de construírem um casamento que lhes dê satisfação e segurança, dão aos filhos uma enorme contribuição para que eles também saibam construir, no futuro, seus próprios casamentos.
9- Respeite o momento da partida deles
Os filhos nascem, crescem e precisam continuar suas vidas formando suas próprias famílias. Os pais precisam abençoar seus filhos despedindo-os com alegria para que sigam seus caminhos quando adultos. Há
pais que desenvolvem um doentio sentimento de posse sobre os filhos, o que dificulta a partida deles em
direção às suas próprias conquistas como adultos.
Alguns pais, inconscientemente ou não, fazem chantagem quando chega a hora do filho sair de casa;
o resultado deste comportamento equivocado é o de muitos filhos partindo para a vida adulta e levando consigo uma falsa culpa em relação aos pais. Muitos levam um sentimento de abandono dos pais e este sentimento tende a dificultar uma boa harmonia conjugal destes filhos com seus respectivos cônjuges.
“Deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher e serão ambos uma só carne”.
Para cada fase da vida dos filhos existe uma maneira de relacionamento deles com os pais. O mais importante, porém, em qualquer fase, é que eles sejam tratados com equilíbrio. Nem aprisionando como se fossem animais irracionais, nem liberando-os abandonados à própria sorte.
E quando os filhos cometem erros?
Os pais devem praticar o genuíno amor pelos filhos, ou seja, independentemente do erro cometido pelo filho (e todos nós os cometemos), a porta do perdão, da reconciliação, do recomeço e do acolhimento deve estar sempre aberta. Diante dos erros dos filhos, os pais não devem ser do tipo que dá uma segunda chance, mas sim do tipo que nunca desiste. Perdoar não significa apoiar o erro, mas sim renovar a oportunidade para corrigi-lo.
Os pais devem manter a porta de acesso dos filhos a eles sempre aberta. Não concordar com os erros não é sinônimo de abandonar, “dar um gelo” ou ficar sem falar com o filho. Devemos nos lembrar que os pais são os escolhidos por Deus para ensinar, então devem ensinar de forma certa. Os pais devem ser como Deus é, ou seja, alguém sempre amoroso, compassivo e perdoador.
Alguns pais falam muito de Deus para seus filhos, mas se parecem pouco com Ele. Isto cria mais confusão do que esclarecimento, mais distanciamento de Deus do que aproximação dele.
Finalmente, quero lembrar que o tempo de amar os filhos e estar perto deles é hoje, pois eles crescem rapidamente. Cada dia é importante. Caminhe em direção a seu filho, descubra o que ele está pensando e sentindo, surpreenda-o com um gesto de carinho e amor. Não seja apenas um cobrador do cumprimento das regras, os filhos não são robôs, são herança do Senhor, eles têm sentimentos. Nascem prontos para serem qualquer coisa e é o comportamento dos pais que vai contribuir para que sejam a coisa certa.
Ore sempre pelos seus filhos. Interceda por misericórdia, proteção e transformação. Lembre-se de que se os filhos são herança do Senhor, Ele estará sempre pronto a nos ajudar a dar conta desta preciosa e apaixonante herança.



As marcas das palavras

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   Amamos nossos filhos, queremos o melhor para eles, mas às vezes agimos como se o amor encobrisse o peso das nossas palavras e ações. Não temos consciência do quanto os atingimos com o que fazemos e dizemos. A palavra é um instrumento, e como tal, tanto pode ser usada para o bem quanto para o mal. Ela também tem o poder de destruir, arruinar, deprimir, de causar toda sorte de dor à alma de alguém, podendo deixar profundas marcas."Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no dia de juízo; porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado."(Mt 12. 36,37).Jesus nos chama a atenção para termos cuidado com cada palavra que sair de nossa boca, porque Ele sabe a força que ela tem. Já ouvi muitas histórias envolvendo o misterioso poder das palavras. Uma delas foi sobre um rapaz que viveu há alguns anos numa pequena cidade do interior. Ele possuía no braço direito, na região do cotovelo, uma estranha mancha, como se fosse o pêlo de um animal no lugar de pele. Isto o deixava muito constrangido e para dificultar sua situação, ele tinha um vizinho que, sempre que o via, não perdia a oportunidade de humilhá-Io, de zombar dele por causa daquele sinal. Depois de algum tempo suportando calado as humilhações, este rapaz reagiu e cheio de ódio, disse ao homem:
– Cuidado, porque de onde veio esta marca, tem outra para você.
Depois de algum tempo, este homem, que o importunava, teve uma filha e para seu grande espanto, ela nasceu com uma marca idêntica, localizada exatamente na mesma posição que a do rapaz.
O poder da palavra é realçado em várias passagens por toda a Bíblia. Em uma delas, Jesus mostra isto com muita ênfase. Quando seguia em direção a Jerusalém com seus discípulos, Ele passou por uma figueira que não tinha frutos e a amaldiçoou dizendo: "Nunca mais coma alguém fruto de ti". Na volta da viagem, ao passar pelo mesmo lugar, Pedro observou que a figueira estava completamente seca e entendeu que foi em conseqüência da palavra proferida por Jesus.
Ele sabia que não era tempo de dar fruto, portanto compreendemos que não havia intenção simplesmente de castigar a figueira e sim demonstrar a força e o poder que há no que se diz.
Além da força que a palavra traz em si, sua influência pode ser muito mais devastadora dependendo de quem as profere, do significado que tem para nós a pessoa que a proferiu. Uma criança, por exemplo, pode ficar muito ferida com o que um colega tenha dito, ou até um desconhecido. Mas quando certas coisas são ditas pelos pais ou por pessoas muito importantes para elas, a força é extremamente maior, o significado é muito mais forte, deixam raízes muito mais profundas.
Há pouco tempo atendi uma mulher de 48 anos que tinha muitas barreiras em sua vida, geradas pelo turbulento relacionamento com sua mãe. Ela contou sobre as várias vezes que sua mãe lhe bateu, por pequenos motivos, e a mágoa que isto lhe deixou. Sobre as surras que levou quando tinha menos de 10 anos de idade. Mas nada feriu tanto quanto as palavras que sua mãe lhe dizia. Entre outras coisas, ela repetia, a cada briga, que a filha da vizinha era ótima, a da fulana era excelente, mas que a dela era a pior pessoa do mundo. E falava exatamente com estas palavras:
– Você é a pior pessoa do mundo, eu não conheço criança nenhuma tão ruim quanto você.
Palavras duras despertam raiva levando a atitudes de rebeldia. "... A palavra dura suscita a ira".(Pv 15. 1) Esta moça, quando era pequena, dizia a si mesma que um dia ainda ia fazer algo de muito ruim para mostrar a sua mãe o que é realmente uma pessoa má. E muitas vezes, movida pela revolta, agiu com extrema agressividade. Como não conseguia atingir a mãe diretamente, feria a si mesma. Chegou até mesmo a pensar em se matar com a intenção de se vingar de sua mãe.
As pessoas são criticadas por suas atitudes, mas ninguém sabe das mágoas que motivam estas ações. Certas palavras ditas pelos pais deixam feridas abertas por longos anos ou para sempre levando os filhos a agirem de forma a serem julgados mal, por todos. Uma jovem, na adolescência, foi vista pela mãe com um namorado, e ouviu palavras muito fortes que a machucaram profundamente. Sua mágoa foi tão grande que ela disse a si mesma que seria exatamente aquele tipo de filha que sua mãe pensava que ela fosse e suas atitudes, a partir daí, passaram a ter o propósito de ferir quem a havia ferido.
Muitos contam sobre as vezes que apanharam, sem demonstrar revolta, ou mesmo dizendo que fizeram por merecer. Contam rindo sobre as surras que levaram, mas não conseguem apagar a tristeza de algumas coisas que ouviram. As palavras certamente ferem mais que a vara.
Meu pai conta que, quando era pequeno, não importava qual dos irmãos começava a confusão, todos, que quase formavam um time de futebol, entravam numa fila, para apanharem juntos. A surra era por atacado e cada um tinha que escolher sua própria vara. Aquele que escolhesse um varinha fraquinha, apanhava dobrado. Isto não adiantava muita coisa porque, como ele conta, eles continuavam armando confusões e inventando brincadeiras perigosas e, sem dúvida, emocionantes. Uma das preferidas era entrar em um barril no alto do morro e rolar de lá de cima até cair dentro do rio. As surras não foram capazes de conter o espírito de aventura, o que os levou a apanhar muito. Mas isto não foi problema para sua mãe porque eles moravam na roça e tinham vara com fartura.
Mas o interessante é que ele conta estas histórias achando graça, sem nenhum rancor. Isto não foi suficiente para contaminar as boas lembranças e o carinho que ele tem por seus pais.
Não estou defendendo que a melhor maneira de resolver as coisas é batendo. Acredito que na maioria das vezes não resolve nada. Como já disse, estou apenas tentando mostrar que determinadas palavras têm o poder de ferir muito mais que muitas varadas. A dor do corpo pode passar com o tempo, mas a dor da alma, às vezes, nem o tempo pode curar.
Numa conversa que ouvi entre dois garotos, um deles disse:
- Eu prefiro quando meu pai me bate do que quando ele zanga comigo.
É claro que boa coisa ele não devia ouvir. O fato de a criança apanhar dá a ela a sensação de ter pagado pelo erro, alivia a consciência. Mas quando ouve uma bronca dos pais, dependendo do que eles dizem, sua culpa se torna maior.
É bom lembrar que quando digo "bater", estou me referindo às chineladas, muitas vezes inevitáveis, e não a espancamento, que infelizmente é o que fazem alguns pais descontrolados e desequilibrados emocionalmente.
O diálogo é a melhor solução. Porém, se não conseguirmos evitar uma atitude mais enérgica, é importante lembrar que não podemos bater de qualquer jeito. Quando um pai bate, por exemplo, no rosto de um filho, a única coisa que ele consegue é humilhar e despertar muita raiva na criança.
Quando um pai bate, movido pelo ódio, corre o risco de passar dos limites e se arrepender depois, além de não conseguir ensinar a criança o que ela precisava aprender.
A Bíblia nos ensina a não usar as mãos para bater numa criança e sim a vara. É porque as mãos têm que estar associadas ao carinho, ao afeto e não à agressividade. Talvez a Bíblia se refira a vara porque naquela época não havia chinelos. As sandálias eram de couro e amarradas aos pés, o que deveria dificultar seu uso para estes fins, e as varas deveriam existir com fartura. Para os que vivem numa cidade grande, fica difí­cil conseguir varas, por isto o chinelo é o que funciona.
Num congresso de terapia familiar, há algum tempo, alguém perguntou a um importante terapeuta se ele era a favor de se bater nos filhos. Ele respondeu que não aconselha nenhum pai ou mãe a agir desta forma, mas disse que quando era criança levou uma surra de seu pai, por ter feito algo muito errado. E acrescentou que hoje é um homem de bem, que não entrou num caminho errado graças à atitude enérgica de seu pai.
É preciso ter ponderação, saber a melhor maneira de agir em cada situação. Quem bate por qualquer coisa, com o tempo perde o respeito dos filhos. Eles se acostumam com as surras. Com bom senso, cada um pode encontrar a forma mais adequada de agir em cada momento.
Seja qual for a situação, é preciso ter consciência de que não podemos agir impulsivamente. Não podemos nos esquecer de que ferimos, com atitudes e com palavras, de forma marcante.
Mesmo já tendo usado o chinelo algumas vezes, eu creio que podemos ensinar qualquer coisa aos filhos com diálogo, carinho e compreensão.
Nota da Redação:
Texto reproduzido, com permissão, do livro O Poder da Palavra dos Pais, de autoria da Dª Elizabeth Pimentel. Paulínia, SP: Apta Edições, 2005, 4ª ed.. Fonefax: (19) 3933-3277 – 3933-3541 – e-mail: editora@aptaedicoes.com.brEste endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. e editoravox@terra.com.brEste endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.